sexta-feira, 22 de junho de 2012

Na Lagoa da Barrinha


Como era Domingo e Laura não tinha planeado nada, decidiu ir com Mila até à praia, sabia que a sua cadela adorava água. Arranjou um cesto com fruta, água e queijo. No caminho compraria pão. Mila percebeu que iriam passear e ficou sentada junto do carro à espera que a dona a mandasse entrar.

Já estava na praia sentada numa manta que tinha sempre no carro, quando Rui Pedro lhe telefonou a perguntar por onde andava. Laura disse que tinha ido até à linda Vila de Mira, levou Mila a brincar na água e que depois aproveitaria para almoçar ali no Parque de Merendas. Ele disse que iria já ter com ela, para não sair de onde estava. Laura foi apanhada de surpresa, não esperava por ele naquele dia, naquele momento. Alguma coisa grave teria acontecido. Iria aguardar e esperar que ele depois lhe contasse. 

Laura sabia que Rui Pedro era alto, que tinha 1,85 de altura, cabelo ligeiramente ondulado e com um corte descontraído, olhos castanhos e um sorriso lindo, fazia covinhas quando sorria. Costumava vestir-se com roupa formal e nunca tinha visto nenhuma foto em que estivesse num ambiente mais informal. Por isso, quando o viu a aproximar-se com calças de ganga já desbotadas e um pólo azul-escuro, não estava preparado para o efeito que ele tinha sobre ela. Estava a caminhar na sua direcção já com um amplo sorriso no rosto.

 - Laura!
 - Rui Pedro!
 - Não me dás sequer dois beijos? – brincou.
 - Desculpa – e aproximou-se dele para o cumprimentar com dois beijos.

Rui Pedro tinha vontade de a abraçar, considerava-a sua irmã, a sua confidente, cúmplice nas longas noites de solidão na Baviera, às vezes passavam horas na internet a partilhar coisas da vida, coisas íntimas até. Viu que ela estava nervosa. Ela sempre dissera que não era tão bonita como as fotos, mas ele achava-a ainda mais bonita, era alta, teria cerca de 1,70 de altura, uns olhos verdes lindos, o seu cabelo era castanho claro, muito longo, ligeiramente ondulado e tinhas algumas madeixas rebeldes a caírem junto ao seu rosto. Os lábios eram rosados e a pele estava ainda bastante bronzeada. Cheirava a mar e baunilha. Sentiu um calor dentro de si, sentia-se bem.

Laura apresentou-lhe Mila que andava atrás de umas gaivotas. Convidou-o a sentar-se na manta, que prontamente logo aceitou.

 - Laura olha para mim. Assusto-te assim tanto? – tentou brincar com a situação para a descontrair.
 - Não, não é isso. É uma sensação estranha. – o coração dela batia desenfreadamente.
 - Então onde vamos almoçar? Estou faminto – e não era só de comida, ainda ontem tinha tido nos seus braços a enóloga e depois da desilusão tinha decido ir ao encontro de Laura. Não estava preparado para aqueles lindos olhos verdes a sorrirem para ele e nem para aqueles lábios sedutores. Não, Laura era a sua amiga do coração, não podia permitir que a sua líbido baralhasse tudo.
 - Trouxe um cesto com alguma comida e estou disposta a partilhar contigo – sorriu.
 - Então vamos lá buscar esse cesto.
 - Tinha pensado em comer ali no Parque de Merendas – e apontou na direcção do Parque.
 - Óptimo. Vamos?

Rui Pedro ficou impressionado com a mesa que Laura preparou para ambos. Tinha várias frutas, um queijo com um aspecto divinal, pão caseiro, água e ainda uns brownies de chocolate com um aspecto delicioso. Não conseguia tirar os olhos dela, estava vestida com umas jardineiras de ganga e uma t-shirt branca, com o seu cabelo com ondulações rebeldes a caírem em cascata pelos seus ombros. Tinha colocado óculos escuros e não podia admirar os seus lindos olhos.

Mais uma vez estava apensar nela de uma forma mais sexual, mas não podia, não com ela. A refeição foi descontraindo Laura e quando terminaram ela já estava completamente relaxada, era tão sensual, tão de bem com a vida. Combinaram ir dar um passeio de Gaivota na Lagoa da Barrinha, a muito custo conseguiram sentar Mila junto deles, mas em vão, estava sempre a saltar para a água o que acabou por antecipar o fim do passeio pela Lagoa.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

No dia seguinte


Laura disse a Rui Pedro que lamentavelmente não poderia ir ao norte, tinha tido um imprevisto e necessitava de passar o fim-de-semana em Coimbra. Depois combinariam um almoço.

Era o dia do seu aniversário e Rui Pedro só pensava no fim do dia com a sua pequena enóloga. Tinha combinado depois da festa lhe ir mostrar a noite da Invicta. Sentia-se ansioso, sentia uma tensão sexual entre os dois e queria saborear os lábios dela, sentir a sua pele, segredar no seu ouvido que era linda e perfeita.

Laura acordou cedo e foi preparar o pequeno-almoço, como era Sábado iria para o terraço, deliciar-se com a sua torrada e café ao som do chilrear dos pássaros. Sentia-se nostálgica, era suposto ir a caminho de Lisboa dar os parabéns pessoalmente a Rui Pedro, mas foi adiado o encontro.

Quando já eram 11h30 decidiu telefonar-lhe. Ele estava sereno, feliz por ter a página do seu quadragésimo aniversário a ser preenchida de uma forma tão inesperada. Disse-lhe que iriam ter um churrasco no jardim que começaria à hora de almoço e se prolongaria pela tarde fora. A noite seria a dois, com Joana Catarina. Queria mostrar-lhe a magia da vista da cidade à noite. Confessou ainda que aguardava o desfecho daquele dia, sentia-se a flutuar perante a perspectiva de a ter nos braços.

Laura decidiu ir visitar o mar, naquela praia isolada junto aos pescadores, que tantas vezes a tinha recebido. Pedacinhos de tristeza inundaram os seus olhos. Não podia negar que estava desiludida, tinha esperado muito por aquele dia. Ao longo daqueles últimos anos tinha aprendido a ver a vida de outras perspectivas, pelos olhos de Rui Pedro.

Na rádio começou Fade to Black dos Metallica:

Life it seems will fade away
Drifting further everyday
Getting lost within myself
Nothing matters no one else
have lost the will to live Simply nothing more to give
There is nothing more for me
Need the end to set me free…

Era assim que se sentia, triste, sem vida, sufocada. O telemóvel despertou-a para a vida, era a sua irmã Patrícia, queria saber se podia contar com ela para o jantar e se depois iam ao cinema. O programa perfeito para aquele dia, o filme teria que ser daqueles muito românticos, que fazem chorar pelo fim feliz.

Enquanto Laura estava no cinema com a sua irmã, Rui Pedro já ia a caminho da quinta na companhia de Joana Catarina. Queriam terminar o que tinha começado no carro, ele sentia-se muito excitado e queria explorar o corpo da sua enóloga.

Com a aurora do novo dia, Rui Pedro sentia-se extasiado, a noite tinha sido perfeita. Não estava era preparado para o que Joana Catarina lhe disse mais tarde, já depois do pequeno-almoço. Estava tão feliz com os planos para aquela sua semana de férias com a sua enóloga que nem se apercebeu do distanciamento que ela tinha criado.

Joana Catarina disse-lhe que tinha tido uma noite inesquecível, mas que estava a terminar o seu trabalho ali naquela quinta e que ia regressar à sua cidade, Coimbra. Que não tinha intenção de alimentar uma relação. Rui Pedro sentiu o chão a fugir dos seus pés, logo ele que estava habituado a pequenas aventuras, de uma noite, de algumas semanas. Nada lhe fazia prever aquele desfecho, precisava de sair dali o mais rapidamente possível. Só lhe ocorriam as palavras de conforto de Laura, os seus conselhos sábios. Precisava de ir ao seu encontro.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

A enóloga


Na linda cidade do Porto, Rui Pedro tinha uma magnífica recepção à sua espera. A sua irmã tinha preparado um belíssimo jantar e até tinha uma convidada especial. Devido ao clima húmido que se fez sentir durante o ano, desenvolveu-se um fungo nas uvas do vinhedo da família, Para tentar ultrapassar o problema, Luísa, irmã de Rui Pedro, tinha convidado a famosa enóloga Joana Catarina, que ia ajudar na primeira produção de vinho de colheita tardia.
Rui Pedro ficou deslumbrado com aquela mulher de estatura baixa, com um cabelo louro a emoldurar um rosto muito expressivo. Não conseguia ver a cor daqueles olhos que estavam escondidos nos óculos escuros.
 - Rui Pedro, apresento-te a minha convidada, Joana Catarina.
 - Joana, este é o meu famoso irmão que só me vem visitar umas duas vezes por ano, Rui Pedro.
 - É um prazer conhecer uma convidada da minha irmã – cumprimentou-a com dois beijos e ficou maravilhado com o perfume cítrico e floral que envolvia aquela mulher.
 - Igualmente, já ouvi muito sobre si, sobre as suas aventuras nos vinhedos da família.
 - Não acredite em tudo o que ouve nesta quinta – piscou o olho a Joana Catarina.
Só quando entraram e foram para a sala onde se iria realizar o jantar, é que Rui Pedro conseguiu ver a cor dos olhos daquela pequena que o tinha enfeitiçado. Eram cor de avelã. Estava tão absorto naquela linda convidada quem nem se apercebeu que a sua irmã estava ali ao seu lado a observa-lo.
 - Eu sabia que ias ficar encantado!
 - Sabias?!
 - Sim – sorriu.
 - Então vamos produzir uma colheita tardia?
 - É verdade, já tinha este desejo há muito tempo, a humidade que desenvolveu o fungo, permitiu apenas que seja concretizado ainda este ano.
O jantar decorreu com muita harmonia, a comida estava deliciosa. O vinho tinha sido devidamente seleccionado. A conversa fluía entre todos os presentes e os olhos de Rui Pedro estavam perdidos no outro extremo da mesa, em Joana Catarina.
O seu telemóvel deu sinal de mensagem nova, era Laura. Estava a tentar saber se já estava em Portugal. Queria falar com ela, mas agora não era oportuno. Quando fosse para o quarto já lhe iria enviar um e-mail, a mencionar que tinha encontrado uma mulher linda, logo no seu primeiro dia de regresso a Portugal.
Depois do jantar Rui Pedro levou os sobrinhos para os respectivos quartos e deliciou-se a ler histórias para eles adormecerem. Estavam mais crescidos. Martim já tinha 4 anos e Carlota tinha apenas 2 anos. Nem se tinha apercebido de como tinha tantas saudades deles.
Assim que adormeceram e antes de se retirar para o seu quarto, desceu. Queria ver se ainda encontrava a enóloga loura. Ela estava com a sua irmã, estavam a preparar chá de frutos silvestres. Já se sentia o aroma. Aproximou-se e apesar de não gostar muito de chá, ofereceu-se para as acompanhar. Luísa muito discretamente saiu e deixou-os sozinhos.
No dia seguinte quando Laura abriu o correio electrónico, sentiu um aperto dentro dela. Rui Pedro estava apaixonado por uma enóloga, perdidamente apaixonado. Teria que arranjar maneira de não ir almoçar com ele no Sábado.

“Rui Pedro,

Bom dia!
A tua irmã é uma querida. Sabe sempre como te fazer uma grande recepção!
E depois tiveste um bónus. Uma convidada que te aqueceu o coração.
Como está a família? Os teus sobrinhos adormeceram no teu colo?

Aconteceu um imprevisto e Sábado já não vou poder ir a Lisboa, lamento. Teremos que marcar nova data para o nosso almoço.

Aguardo sugestões!

Beijo”

No dia seguinte já tinha uma resposta.

“Laura,

Já sabes, a minha irmã adora ter convidados em sua casa. Aqui os jantares nunca são monótonos. Relativamente ao bónus, foi uma agradável surpresa. Parece uma fada. Hoje passei parte do dia com ela nos vinhedos. Ela tem família aí em Coimbra, quem sabe ainda a conheces…
Também queria falar contigo acerca do almoço de Sábado. A minha irmã está a preparar uma festa. Diz que a celebração do meu quadragésimo aniversário deve ser memorável. Assim sendo, gostaria que viesses cá, a minha irmã disponibilizou um quarto, para o caso de quereres passar depois cá a noite.
Fico a aguardar pela tua resposta.

Beijos”

3 dias antes do grande dia



Laura estava no jardim a cortar a relva enquanto Mila, a sua Labradora andava atrás das borboletas. Já estava a escurecer, o dia tinha sido longo e ansiava por um reconfortante banho, seguido de uma sopa no sofá enquanto fazia zapping na televisão.

Quando foi para o quarto para ir dormir, verificou que tinha uma chamada registada no seu telemóvel. Era de Rui Pedro, já devia ter chegado a Lisboa. Iria enviar uma mensagem para saber se estava tudo bem.

“Hello Stranger! Já estás na nossa capital?!”

Faltavam apenas 3 dias para ir ao seu encontro, já começava a ficar ansiosa. Tinha um carinho muito especial por ele, uma amizade profunda. Sentia que ele tinha feito parte de toda a sua existência, mas tinha receio de defraudar as expectativas. Não se julgava uma mulher deslumbrante, apesar de isso não ser importante, ia conhecer um amigo. O seu telemóvel deu sinal de mensagem nova.

“Olá. Já estou na Invicta… Depois falamos. Bj”

O seu coraçãozinho pulava de felicidade sempre que recebia um e-mail ou uma mensagem de Rui Pedro. Podia-se dizer que eram amigos, mas às vezes sentia-se uma adolescente apaixonada. Neste caso por alguém que conhecia de fotografias, por alguém que tinha uma voz (segura e doce) e escrevia muito bem. Ele tinha um dom nato para a escrita e assim a tinha conquistado. Escrevia palavras bonitas e escrevia com paixão. Era um homem apaixonado pela vida, costumava dizer que os dias eram folhas em branco para escrevermos o que quisermos, mais um desafio, para fazer o possível por escrever uma história bonita e não deixar simplesmente passar o tempo…

Laura adormeceu com um sorriso no rosto, adormeceu a pensar na sua ida a Lisboa no próximo Sábado, no dia agradável que iria passar com Rui Pedro.


O regresso a Lisboa


Rui Pedro sentiu que estava em casa mal o avião aterrou, entrou num táxi e foi rumo ao seu duplex com vista para o Rio Tejo, no Parque das Nações. A sensação de conforto que o invadiu deixou-o emocionado. Tantos momentos bons, solitários, entre amigos, com a família ali foram vividos. O cheiro daquela cidade era único.

Adorava a Baviera e até já fazia parte da sua rotina, ao fim-de-semana ir assistir aos jogos do Bayern Munique. Mas agora em Portugal sentia-se em casa. Este era o seu país. Cada vez mais considerava a possibilidade de regressar a título definitivo, não queria o dinheiro por ganância, mas como porta de acesso para pequenos prazeres, como viajar. À medida que o tempo passava, pensava que o cliché de ser feliz ou não, de uma forma simplista, podia não ser mais do que o balanço entre a quantia de momentos bonitos que guardava na memória face aos menos bons. Uma vez tinha lido num livro que "só começamos a viver, quando encontramos algo pelo qual estamos dispostos a morrer"... Odiava pensar que ainda não tinha começado a viver... não seria certamente a quantidade de matrículas BMW que alimentariam tal.

O Telemóvel deu sinal de uma mensagem nova. Devia ser a sua irmã, tinha combinado ir à sua quinta jantar com toda a família. Tantas saudades, os seus sobrinhos teriam crescido imenso, desde a sua última visita. Mas ainda tinha tempo para tomar um banho para se refrescar da viagem. Tinha deixado a bateria do seu Land Rover desligada, o jipe pegou logo à primeira tentativa, que bom, iria abastecer e seguir viagem até à Cidade Invicta.

Quando passou pela sinalização que indicava a saída para Coimbra, lembrou-se de Laura, o que estaria a fazer. Tentou telefonar-lhe, mas ela não atendeu a chamada. Mais tarde tentaria novamente. Iriam almoçar juntos no Sábado, isto se ela não mudasse de ideias na última hora, era impressionante como aquela mulher se escondia.


Dia de fornecedores


Laura já ia com 5 minutos de atraso, tinha adormecido. Parecia que o universo estava contra ela, os carros não andavam, alguém decidiu parar no meio da estrada. Logo naquele dia, era dia de receber encomendas de fornecedores, finalmente iam chegar os cake stands, provenientes dos Estados Unidos. Peças feitas com moldes dos anos 50, manualmente, em vidro milk-glass, sendo um produto bastante pesado e sólido, implicavam que o transporte das mesmas fosse bastante caro, além dos elevados direitos Alfandegários. Mas eram pratos que ficavam simplesmente maravilhosos numa mesa, valiam o investimento, pois embelezavam qualquer decoração e qualquer bolo.
O negócio estava a correr bem, mais uns 2 anos e já poderia começar a investir na casa que tinha sido da sua avó materna. Queria muito transformar aquele espaço numa espécie de Turismo Rural. Um sítio onde poderia receber pessoas que buscavam harmonia e contacto com a natureza.
Mal tinha entrado na loja, entrou logo o fornecedor.

 - Bom dia dona Laura!
 - Bom dia Sr. Miguel! Pensava que não conseguia chegar a horas.
 - Como vi a porta fechada, fui beber um café. Sabia que teria que pagar mais se tivesse que voltar cá na segunda-feira (piscou-lhe o olho).
 - Obrigada! Muita generosidade da sua parte.

Com a pressa toda quando saiu de casa, esqueceu-se do telemóvel. Era o dia de aniversário da sua prima Maria. Assim enviaria um e-mail. Quando abriu o correio electrónico, tinha um longo e lindo e-mail de Rui Pedro. Dentro de dias ele viria de férias para Portugal e Laura ia almoçar com ele.
Há 3 anos atrás recebeu por engano um e-mail com uma proposta de preços para aquisição de um BMW, um Z3. Por educação respondeu ao e-mail e informou que o tinha recebido por engano, pois não tinha contactado a BMW para adquirir um carro. Por ironia do destino ou não, desde aquela data que quase todos os dias trocou e-mails com Rui Pedro. Sabem quase tudo da vida um do outro, mas nunca se encontraram. Ficou estabelecido que no aniversário dele iriam almoçar juntos à beira do Rio Tejo. A data estava a aproximar-se e ela ainda não tinha escolhido o presente. Sábado compraria uma caneta de aparo da Montblanc na linda cidade do Porto. Queria que aquela caneta simbolizasse a tinta que serviu para escrever os e-mails trocados.


Prólogo


Rui Pedro contava os dias para o seu regresso a Portugal, sentia saudades da sua família, de contemplar o Rio Tejo ao fim do dia, da luz de Lisboa. Estava a tentar lembrar-se de todas as palavras do e-mail que recebera no dia anterior. Laura dissera que iria à capital no primeiro fim-de-semana de Outubro, ela sabia que era o seu aniversário e queria aproveitar aquela data para ir ao seu encontro. Já tinham passado 3 anos. Não tinham conta os e-mails trocados entre eles, as confidências partilhadas. Seria bom finalmente conhecer o rosto de quem tantas vezes invadia os seus pensamentos.

Bateram à porta, era Patrícia, a sua secretária.

- Eng.º chegou o Director Abel. Não vem com cara de muitos amigos, está preparado para a reunião?

- Claro, ele que venha. Eu também tenho poucos amigos (gracejou).

Não lhe apetecia nada aquela reunião, mas já sabia que os alemães gostavam daquele tipo de pressão. As vendas estavam a cair e agora era a sua vez de dar explicações. A sua contra-proposta tinha que ser forte, o negócio daquela venda para Portugal iria concretizar-se, era apenas uma questão de dias.

Laura estava no seu jardim, já se sentia a chegada do Outono. Estava perdida em pensamentos, era o seu último dia de férias.