Laura disse a Rui Pedro que
lamentavelmente não poderia ir ao norte, tinha tido um imprevisto e necessitava
de passar o fim-de-semana em
Coimbra. Depois combinariam um almoço.
Era o dia do seu aniversário e
Rui Pedro só pensava no fim do dia com a sua pequena enóloga. Tinha combinado
depois da festa lhe ir mostrar a noite da Invicta. Sentia-se ansioso, sentia
uma tensão sexual entre os dois e queria saborear os lábios dela, sentir a sua
pele, segredar no seu ouvido que era linda e perfeita.
Laura acordou cedo e foi preparar
o pequeno-almoço, como era Sábado iria para o terraço, deliciar-se com a sua torrada e café ao som do chilrear dos pássaros. Sentia-se nostálgica, era suposto ir a
caminho de Lisboa dar os parabéns pessoalmente a Rui Pedro, mas foi adiado o
encontro.
Quando já eram 11h30 decidiu
telefonar-lhe. Ele estava sereno, feliz por ter a página do seu quadragésimo
aniversário a ser preenchida de uma forma tão inesperada. Disse-lhe que iriam
ter um churrasco no jardim que começaria à hora de almoço e se prolongaria pela
tarde fora. A noite seria a dois, com Joana Catarina. Queria mostrar-lhe a
magia da vista da cidade à noite. Confessou ainda que aguardava o desfecho
daquele dia, sentia-se a flutuar perante a perspectiva de a ter nos braços.
Laura decidiu ir visitar o mar,
naquela praia isolada junto aos pescadores, que tantas vezes a tinha recebido. Pedacinhos
de tristeza inundaram os seus olhos. Não podia negar que estava desiludida,
tinha esperado muito por aquele dia. Ao longo daqueles últimos anos tinha
aprendido a ver a vida de outras perspectivas, pelos olhos de Rui Pedro.
Na rádio começou Fade to Black dos Metallica:
Life it seems will fade away
Drifting further everyday
Getting lost within myself
Nothing matters no one else
have lost the will to live Simply
nothing more to give
There is nothing more for me
Need the end to set me free…
Era assim que se sentia, triste,
sem vida, sufocada. O telemóvel despertou-a para a vida, era a sua irmã Patrícia,
queria saber se podia contar com ela para o jantar e se depois iam ao cinema. O
programa perfeito para aquele dia, o filme teria que ser daqueles muito românticos,
que fazem chorar pelo fim feliz.
Enquanto Laura estava no cinema
com a sua irmã, Rui Pedro já ia a caminho da quinta na companhia de Joana
Catarina. Queriam terminar o que tinha começado no carro, ele sentia-se muito
excitado e queria explorar o corpo da sua enóloga.
Com a aurora do novo dia, Rui
Pedro sentia-se extasiado, a noite tinha sido perfeita. Não estava era preparado
para o que Joana Catarina lhe disse mais tarde, já depois do pequeno-almoço. Estava
tão feliz com os planos para aquela sua semana de férias com a sua enóloga que
nem se apercebeu do distanciamento que ela tinha criado.
Joana Catarina disse-lhe que
tinha tido uma noite inesquecível, mas que estava a terminar o seu trabalho ali
naquela quinta e que ia regressar à sua cidade, Coimbra. Que não tinha intenção
de alimentar uma relação. Rui Pedro sentiu o chão a fugir dos seus pés, logo ele
que estava habituado a pequenas aventuras, de uma noite, de algumas semanas. Nada
lhe fazia prever aquele desfecho, precisava de sair dali o mais rapidamente
possível. Só lhe ocorriam as palavras de conforto de Laura, os seus conselhos sábios.
Precisava de ir ao seu encontro.
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