quinta-feira, 21 de junho de 2012

No dia seguinte


Laura disse a Rui Pedro que lamentavelmente não poderia ir ao norte, tinha tido um imprevisto e necessitava de passar o fim-de-semana em Coimbra. Depois combinariam um almoço.

Era o dia do seu aniversário e Rui Pedro só pensava no fim do dia com a sua pequena enóloga. Tinha combinado depois da festa lhe ir mostrar a noite da Invicta. Sentia-se ansioso, sentia uma tensão sexual entre os dois e queria saborear os lábios dela, sentir a sua pele, segredar no seu ouvido que era linda e perfeita.

Laura acordou cedo e foi preparar o pequeno-almoço, como era Sábado iria para o terraço, deliciar-se com a sua torrada e café ao som do chilrear dos pássaros. Sentia-se nostálgica, era suposto ir a caminho de Lisboa dar os parabéns pessoalmente a Rui Pedro, mas foi adiado o encontro.

Quando já eram 11h30 decidiu telefonar-lhe. Ele estava sereno, feliz por ter a página do seu quadragésimo aniversário a ser preenchida de uma forma tão inesperada. Disse-lhe que iriam ter um churrasco no jardim que começaria à hora de almoço e se prolongaria pela tarde fora. A noite seria a dois, com Joana Catarina. Queria mostrar-lhe a magia da vista da cidade à noite. Confessou ainda que aguardava o desfecho daquele dia, sentia-se a flutuar perante a perspectiva de a ter nos braços.

Laura decidiu ir visitar o mar, naquela praia isolada junto aos pescadores, que tantas vezes a tinha recebido. Pedacinhos de tristeza inundaram os seus olhos. Não podia negar que estava desiludida, tinha esperado muito por aquele dia. Ao longo daqueles últimos anos tinha aprendido a ver a vida de outras perspectivas, pelos olhos de Rui Pedro.

Na rádio começou Fade to Black dos Metallica:

Life it seems will fade away
Drifting further everyday
Getting lost within myself
Nothing matters no one else
have lost the will to live Simply nothing more to give
There is nothing more for me
Need the end to set me free…

Era assim que se sentia, triste, sem vida, sufocada. O telemóvel despertou-a para a vida, era a sua irmã Patrícia, queria saber se podia contar com ela para o jantar e se depois iam ao cinema. O programa perfeito para aquele dia, o filme teria que ser daqueles muito românticos, que fazem chorar pelo fim feliz.

Enquanto Laura estava no cinema com a sua irmã, Rui Pedro já ia a caminho da quinta na companhia de Joana Catarina. Queriam terminar o que tinha começado no carro, ele sentia-se muito excitado e queria explorar o corpo da sua enóloga.

Com a aurora do novo dia, Rui Pedro sentia-se extasiado, a noite tinha sido perfeita. Não estava era preparado para o que Joana Catarina lhe disse mais tarde, já depois do pequeno-almoço. Estava tão feliz com os planos para aquela sua semana de férias com a sua enóloga que nem se apercebeu do distanciamento que ela tinha criado.

Joana Catarina disse-lhe que tinha tido uma noite inesquecível, mas que estava a terminar o seu trabalho ali naquela quinta e que ia regressar à sua cidade, Coimbra. Que não tinha intenção de alimentar uma relação. Rui Pedro sentiu o chão a fugir dos seus pés, logo ele que estava habituado a pequenas aventuras, de uma noite, de algumas semanas. Nada lhe fazia prever aquele desfecho, precisava de sair dali o mais rapidamente possível. Só lhe ocorriam as palavras de conforto de Laura, os seus conselhos sábios. Precisava de ir ao seu encontro.

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