terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Depois

Inesperadamente Filipa reagiu de forma muito serena, manteve um longo silêncio e depois deu os parabéns a António.

 - António parabéns! Sei que vais ser um pai babado.
 - Obrigado Filipa.
 - Devias ir para o Porto, a Margarida deve estar ansiosa por sentir que a apoias incondicionalmente.
 - Filipa…
 - Vai António. Eu estou bem. Afinal somos amigos ou não?! A nossa amizade tem uma estrutura muito sólida.
 - Desculpa Filipa.
 - Não peças, nós não fizemos nenhum contrato. Foi muito bom enquanto durou – Filipa conseguiu sorrir.
 - Obrigado. Vou embora então.

António sentia o seu coração a bater descompassadamente. Como é que Filipa estava tão serena. Será que a iria ver em breve. Tanta pergunta por responder, mas não conseguia perguntar mais nada. E Margarida, como estaria.

Depois de António ir embora, os olhos de Filipa não conseguiram reter mais o mar de lágrimas que estavam prestes a desabar. Chorou convulsivamente enquanto segurava o seu ventre, existia uma pequena vida ali dentro e ela não teve coragem de a partilhar com António. Ele ainda gostava muito de Margarida, percebeu isso pela emoção com que ele lhe contou que ia ser pai.
 
Filipa estava muito triste, sentia dificuldade em respirar com normalidade, os seus olhos ardiam de tanto chorar, mas tinha que ultrapassar aquilo. Ia ser mãe, aquele bebé dependia dela, por ele devia sentir-se feliz e agradecia em silêncio por António lhe ter dado aquele presente. Ele iria fazer sempre parte da vida dela.

Já tinha passado um mês e Filipa nunca mais falou com António. Ele enviou-lhe um e-mail a pedir desculpa, a mencionar que ela era uma mulher excepcional, mas Filipa nunca respondeu ao e-mail. Sentia-se mais segura assim, precisava de se afastar para acalmar a dor que a consumia. Tinha-se apaixonado por António, pensava nele todos os dias, tinha saudades da voz dele, dos beijos, dos abraços, das palavras carinhosas que lhe deixava ao longo do dia. Sentia-se como que tendo caído duma grande bola de sabão, como se tivesse andado a flutuar e de repente se tivesse estatelado no chão. Não andava a comer bem, sabia disso e até a médica a tinha alertado para a perda de peso, tinha que se alimentar bem, por ela e pelo bebé. Já tinha uma gestação de quase 8 semanas.

Recentemente tinha decidido prestar serviço de voluntariado na Associação de Defesa de Animais em Alcobaça. Assim depois de sair da clínica de veterinária na Nazaré, ia até Alcobaça, mantinha-se sempre ocupada e só quando ia dormir chorava. Estava a adorar a experiência, tinham como importante missão ensinar às pessoas como tratar de um animal ferido ou doente, bem como os passos que se devem dar caso se encontre um abandonado. Tratavam sobretudo de cães e gatos feridos ou abandonados.

António estava a chegar ao aeroporto de Lisboa, vinha de Angola, tinha lá estado uma semana a dar formação na área de ambiente, para serem assegurados os planos de gestão ambiental, sendo que Angola ficará assim capacitada para os desafios que existem, não só nacionais como também os desafios com a sustentabilidade planetária. Sentia muitas saudades de Filipa, mas não tinha coragem de a contactar. Ela nunca lhe respondeu ao e-mail e não sabia como reagiria a um contacto mais directo dele.

Margarida tinha-se mudado para a sua casa em Lisboa, tinha sofrido um aborto espontâneo há cerca de três semanas e entrou em depressão. António tentava ajudar, saía com ela, levava-a ao cinema, ao Centro Comercial, onde ela dantes adorava passar horas, tinha disponibilizado dinheiro numa conta só para ela. Nada a animava, por isso estava a planear levá-la no fim-de-semana à Serra da Estrela à casa de família que lá mantinha.

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