- António parabéns! Sei que vais ser um pai babado.
- Obrigado Filipa.
- Devias ir para o Porto, a Margarida deve estar ansiosa por sentir que a apoias incondicionalmente.
- Filipa…
- Vai António. Eu estou bem. Afinal somos amigos ou não?! A nossa amizade tem uma estrutura muito sólida.
- Desculpa Filipa.
- Não peças, nós não fizemos nenhum contrato. Foi muito bom enquanto durou – Filipa conseguiu sorrir.
- Obrigado. Vou embora então.
António
sentia o seu coração a bater descompassadamente. Como é que Filipa estava tão
serena. Será que a iria ver em
breve. Tanta pergunta por responder, mas não conseguia
perguntar mais nada. E Margarida, como estaria.
Depois de
António ir embora, os olhos de Filipa não conseguiram reter mais o mar de
lágrimas que estavam prestes a desabar. Chorou convulsivamente enquanto
segurava o seu ventre, existia uma pequena vida ali dentro e ela não teve
coragem de a partilhar com António. Ele ainda gostava muito de Margarida,
percebeu isso pela emoção com que ele lhe contou que ia ser pai.
Já tinha
passado um mês e Filipa nunca mais falou com António. Ele enviou-lhe um e-mail
a pedir desculpa, a mencionar que ela era uma mulher excepcional, mas Filipa
nunca respondeu ao e-mail. Sentia-se mais segura assim, precisava de se afastar
para acalmar a dor que a consumia. Tinha-se apaixonado por António, pensava
nele todos os dias, tinha saudades da voz dele, dos beijos, dos abraços, das
palavras carinhosas que lhe deixava ao longo do dia. Sentia-se como que tendo
caído duma grande bola de sabão, como se tivesse andado a flutuar e de repente
se tivesse estatelado no chão. Não andava a comer bem, sabia disso e até a
médica a tinha alertado para a perda de peso, tinha que se alimentar bem, por
ela e pelo bebé. Já tinha uma gestação de quase 8 semanas.
Recentemente
tinha decidido prestar serviço de voluntariado na Associação de Defesa de
Animais em Alcobaça.
Assim depois de sair da clínica de veterinária na Nazaré, ia
até Alcobaça, mantinha-se sempre ocupada e só quando ia dormir chorava. Estava
a adorar a experiência, tinham como importante missão ensinar às
pessoas como tratar de um animal ferido ou doente, bem como os passos que se
devem dar caso se encontre um abandonado.
Tratavam sobretudo de cães e gatos feridos ou abandonados.
António
estava a chegar ao aeroporto de Lisboa, vinha de Angola, tinha lá estado uma
semana a dar formação na área de ambiente, para serem assegurados
os planos de gestão ambiental, sendo que Angola ficará assim capacitada para os
desafios que existem, não só nacionais como também os desafios com a
sustentabilidade planetária. Sentia muitas saudades de Filipa, mas não tinha
coragem de a contactar. Ela nunca lhe respondeu ao e-mail e não sabia como
reagiria a um contacto mais directo dele.
Margarida
tinha-se mudado para a sua casa em Lisboa, tinha sofrido um aborto espontâneo
há cerca de três semanas e entrou em depressão. António
tentava ajudar, saía com ela, levava-a ao cinema, ao Centro Comercial, onde ela
dantes adorava passar horas, tinha disponibilizado dinheiro numa conta só para
ela. Nada a animava, por isso estava a planear levá-la no fim-de-semana à Serra
da Estrela à casa de família que lá mantinha.
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