quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Em casa

Naquela casa respirava um sossego que já andava distante, António sentia uma paz interior imensa. Tinha um quarto branco com uns apontamentos azul, azul do mar à sua espera. Toalhas de banho em algodão egípcio na casa de banho contígua, sabonete da Claus Porto, mais tulipas e velas brancas. Iria tomar um banho rápido e vestir uma roupa mais informal.

Filipa estava vestida com uns leggins pretos e uma túnica branca com um decote ousado, descalça, o cabelo estava preso num tótó, usava pérolas brancas nas orelhas e só tinha pensado em como lhe apetecia soltar o cabelo. Era simplesmente linda, uma das suas características principais eram os seus olhos, muito expressivos e tinham sempre um brilho muito especial, tinha cerca de um metro e setenta de altura, assim descalça era 10 centímetros mais baixa que António, desejava tê-la nos braços, protegê-la e beijá-la.
  
Já depois do jantar , bebiam o café na varanda. De fundo ouviam-se os grilos, o mar, o céu estava estrelado e a noite ligeiramente fria. Filipa foi buscar duas mantinhas de lã e deu uma a António. Depois de beberem o café, quase em silêncio Filipa perguntou a António se estava bem, se estava confortável, se precisava de mais alguma coisa. António disse que estava bem, que estava a desfrutar da serenidade da noite e disse:
  
- Obrigado Filipa! O jantar estava delicioso - até tu estás deliciosa, pensou.
- Ainda bem que gostaste - sorriu.
- Adoro esta tranquilidade, é gratificante depois de um dia de intenso trabalho, poder usufruir assim da natureza.
- Sim. É aqui que recupero as minhas energias.
- É aqui que me escreves?!
- Às vezes, sim. Porquê?
- Estava a imaginar a descrição que no outro dia me fizeste, ouvias o mar, os grilos... - sorriu tímidamente.
- Ah! Lembro-me sim. Foi aqui sentada que te escrevi isso.
- Obrigada por me teres convidado para este fim-de-semana aqui contigo.
- Hum... como contrapartida vais comigo ver o derby no próximo mês e tens que assitir comigo nas bancadas de sócios do Benfica - deu uma gargalhada.
- Estás a falar a sério?!
- Claro que sim. Porquê?
- E estás preparada para a derrota do Benfica?
- Isso não vai acontecer. Sabes porquê?
- Porquê?!
- Porque nunca vi um jogo na luz em que o Benfica tivesse perdido e não será agora - sorriu com os olhos a brilharem.
- Mas posso torcer pelo Sporting?
- Isso é contigo, na certeza de porém seres insultado pelos sócios que estarão sentados ao lado.
- Então vou contigo sim, mas tu compras os bilhetes.
- Já os tenho.
- E depois passas a noite lá em Lisboa? Podes ficar em minha casa, já fica tarde para regressares.
- No dia seguinte vou trabalhar, depois vê-se.
- Vais ficar muito zangada comigo com a vitória dos leões?
- Se por mero infeliz acaso isso acontecer, será melhor não falares muito para mim.
- Vou tentar - sorriu.
  
Estavam sentados um frente para o outro e no meio da conversa Filipa aproximou-se de António como desafio, ficava deslumbrante quando defendia uma causa e mesmo não gostando do Benfica, adorava aquela faceta dela. Tinha contacto com algumas mulheres, em algumas ocasiões jantava com uma ou outra e às vezes acabava por dormir com elas. Com Filipa tinha uma vontade crescente de a proteger, de a mimar, de a defender, de a beijar com toda a calma do mundo, saborear o momento, a ternura que ela emanava. Sabia que com ela não poderia ter um jantar casual, uma noite de vez em quando, ela era uma mulher que iria querer uma relação de longa duração e ele não tinha esse espaço na sua vida. Mas queria-a, cada vez mais.
  
Filipa estava enroscada na manta e perguntou-lhe se estava tudo bem:
  
- Tão pensativo... está tudo bem?
- Sim. Sabes que sou tímido, mas tenho uma vontade enorme de fazer isto - e puxou o rosto de Filipa, ficou colado ao rosto dela, quase a tocar-lhe os lábios, Filipa não disse nada, mas notava-se que ansiava tanto quanto António por aquele momento.
  
Beijaram-se, primeiro com doçura, e depois como uma necessidade, uma necessidade urgente, como se para respirarem precisassem dos beijos. Quando separaram os lábios, António não a largou, ficou com a testa colada na da Filipa e disse:
  
- Era nisto que pensava - e voltou a beijá-la.
- Podias ter dito - tentou brincar Filipa.
- Se eu tivesse dito por palavras, o que me respondias?
- Que se corresses atrás de mim, poderias tentar - e desatou a correr.
- Tu és muito doida - e correu atrás dela.
  
Quando a conseguiu alcançar, agarrou-a pela cintura e ficou a olhar para ela, a tentar memorizar cada pormenor do seu rosto, sabia que iria guardar com muito carinho todas aquelas doces recordações, queria pensar nela e lembrar-se do seu sorriso, dos seus olhos, dos seus lábios, do seu perfume que lembrava o aroma delicado do pó de talco com um toque de baunilha. Desta vez foi ela quem deu o primeiro passo, colou-se aos lábios de António, saboreou lentamente cada pedacinho dos lábios, como que a pedir permissão para entrar, brincou com a língua de António, quando sentiu a exigência do beijo de Filipa, apercebeu-se que ela se agarrava aos seus braços com receio de que ele a fosse largar a qualquer momento. Afastou-se um pouco e sossegou-a, dizendo que era ali que queria estar e que não iria embora.
  
No dia seguinte acordou sozinho, sentiu um vazio, onde estaria Filipa. Estaria zangada ou desiludida com ele. Levantou-se e quando a ia procurar ela vinha já ao seu encontro, parecia uma fada, descalça, o cabelo solto, uma túnica branca quase transparente. Aproximou-se de António, disse um bom dia num tom de voz rouco e beijou-lhe a ponta do nariz.
 
- Vinha-te acordar - e sorriu.
- Hummm... cheira a café - e devolveu um sorriso.
- Sim, vem comigo - puxou-o pela mão.
- Deixaste-me sozinho na cama.
- Desculpa, mas queria preparar-te um pequeno almoço delicioso - puxou uma cadeira da varanda para ele se sentar.
- Nada disso, eu sou um cavalheiro - e puxou a cadeira de Filipa. - Senta-te.
- Ainda me habituas mal - brincou.
- Mereces tudo, minha fada branca.
- Fada branca? - perguntou.
- Sim... a cor com que te defino é o branco, como o silêncio, o sossego, dás-me muita tranquilidade... Excepto quando me beijas - piscou-lhe o olho.
- Que bom! - sorriu corada.

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