terça-feira, 23 de abril de 2013

Dia de Páscoa


No dia de Páscoa Filipa acordou sobressaltada, a campainha não parava de tocar, quem estaria a tocar à campainha, pensou enquanto se levantava. Não sabia que horas eram, tinha demorado a adormecer.
 
Quando viu que era António sentiu um aperto dentro dela, um misto de felicidade e de preocupação.

 - O que se passa contigo Filipa, não me querias deixar entrar?! – sorriu, mas ao ver o rosto de Filipa, percebeu que ela não estava nada bem e abraçou-a imediatamente. Estava muito pálida, os olhos estavam muito inchados, de certeza que tinha estado a chorar, tinha olheiras já profundas. Filipa estás doente?

Filipa estava a chorar. Não sabia o que fazer, afastou-se um pouco e puxou-a para dentro de casa. Obrigou-a a olhar para ele, levou os seus dedos ao rosto dela para lhe limpar as lágrimas. Ela fechou os olhos e ele sentiu uma dor imensa dentro dele, sabia que ela estava assim por causa dele.

 - Desculpa – conseguiu dizer Filipa.

 - Não peças.

 - António preciso de te dizer uma coisa muito importante.

 - Diz – o que seria que ela iria dizer, que não o queria ver mais. Iria entender, mas não o conseguiria fazer, mais do que nunca sabia que o seu lugar era ali junto dela.

 - Vamos para a sala.

António seguiu Filipa, deixou-a sentar-se no sofá e depois sentou-se ao seu lado.

 - António… naquele dia em que soubeste que a Margarida estava grávida eu tinha uma coisa muito importante para te contar, mas depois não tive coragem e deixei-te ir embora.

 - O que tinhas para me dizer Filipa? – sentia-se muito angustiado.

 - Eu estou grávida.

António ficou em silêncio, não sabia o que dizer, o que pensar. Sentia uma felicidade muito grande. Temia que ela lhe fosse dizer que estava gravemente doente. Mas ela estava grávida, existia a possibilidade de um futuro deles, de uma família.

 - Filipa tu estás muito mais magra, está tudo bem com o bebé e contigo? – conseguiu finalmente dizer e puxou-a para ele, tocou-lhe na barriga, depois agarrou-lhe o rosto e beijou-a. As saudades que tinha dela, dos seus lábios, dos seus beijos. Porque não me disseste antes Filipa?

 - Porque não queria estragar a tua felicidade.

 - A minha felicidade é aqui junto de ti.

 - António naquele dia, depois do que a Margarida te disse, vi no teu olhar esperança, esperança de recuperar o amor perdido, a família.

 - A notícia de que ia ser pai apanhou-me de surpresa, até porque imaginava-me a ser pai dos teus filhos. Depois senti que não podia abandonar a Margarida e tu abriste-me essa porta. Mas o meu coração ficou aqui e eu vim para o recuperar.

 - Abraças-me António?

 - Anda cá meu amor – abraçou-a durante muito tempo, quando sentiu que Filipa estava mais calma afastou-a suavemente e beijou cada pedacinho do seu rosto. Filipa já foste ao médico?

 - Sim.

 - E o que disse acerca do teu peso? Não deverias estar a ganhar peso?

 - Disse que para já não estava a prejudicar o bebé, mas para ter cuidado.

 - Quando é a próxima consulta?

 - Na próxima semana.

 - Posso ir contigo?

 - Queres ir?

 - Muito. Quero estar sempre presente.

 - E a Margarida?

 - Ela voltou para o Porto e para o antigo namorado. Não te preocupes com ela.

 - E tu como estás?

 - Eu? Eu estou bem, estou aqui contigo e não tenho intenção de ir embora.

 - Tens a certeza?

 - Sim, certeza absoluta – viu que os olhos de Filipa adquiriam um novo brilho.

 - E agora?

 - Agora… Vais tomar banho, vestir-te e depois vamos tomar o pequeno-almoço. Combinado?

 - Sim – sorriu timidamente.
 
Enquanto Filipa tomava banho, António preparava papas de aveia com pêra, ainda se lembrava do quanto Filipa adorava comer papas de aveia. Não iria colocar canela, sabia que as mulheres grávidas não deviam ingerir canela. Foi generoso com a quantidade de mel, estavam quase prontas, só precisavam de descansar uns minutos, entretanto iria ver como estava Filipa. Quando entrou no quarto sentiu o aroma do perfume dela, ela estava a vestir-se e sorriu-lhe.

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