No dia de Páscoa Filipa acordou sobressaltada, a campainha
não parava de tocar, quem estaria a tocar à campainha, pensou enquanto se
levantava. Não sabia que horas eram, tinha demorado a adormecer.
Quando viu que era António sentiu um aperto dentro dela, um
misto de felicidade e de preocupação.
- O que se passa
contigo Filipa, não me querias deixar entrar?! – sorriu, mas ao ver o rosto de
Filipa, percebeu que ela não estava nada bem e abraçou-a imediatamente. Estava
muito pálida, os olhos estavam muito inchados, de certeza que tinha estado a
chorar, tinha olheiras já profundas. Filipa estás doente?
Filipa estava a chorar. Não sabia o que fazer, afastou-se um
pouco e puxou-a para dentro de casa. Obrigou-a a olhar para ele, levou os seus
dedos ao rosto dela para lhe limpar as lágrimas. Ela fechou os olhos e ele
sentiu uma dor imensa dentro dele, sabia que ela estava assim por causa dele.
- Desculpa –
conseguiu dizer Filipa.
- Não peças.
- António preciso de
te dizer uma coisa muito importante.
- Diz – o que seria
que ela iria dizer, que não o queria ver mais. Iria entender, mas não o
conseguiria fazer, mais do que nunca sabia que o seu lugar era ali junto dela.
- Vamos para a sala.
António seguiu Filipa, deixou-a sentar-se no sofá e depois
sentou-se ao seu lado.
- António… naquele
dia em que soubeste que a Margarida estava grávida eu tinha uma coisa muito
importante para te contar, mas depois não tive coragem e deixei-te ir embora.
- O que tinhas para
me dizer Filipa? – sentia-se muito angustiado.
- Eu estou grávida.
António ficou em silêncio, não sabia o que dizer, o que
pensar. Sentia uma felicidade muito grande. Temia que ela lhe fosse dizer que
estava gravemente doente. Mas ela estava grávida, existia a possibilidade de um
futuro deles, de uma família.
- Filipa tu estás
muito mais magra, está tudo bem com o bebé e contigo? – conseguiu finalmente
dizer e puxou-a para ele, tocou-lhe na barriga, depois agarrou-lhe o rosto e
beijou-a. As saudades que tinha dela, dos seus lábios, dos seus beijos. Porque
não me disseste antes Filipa?
- Porque não queria
estragar a tua felicidade.
- A minha felicidade
é aqui junto de ti.
- António naquele
dia, depois do que a Margarida te disse, vi no teu olhar esperança, esperança
de recuperar o amor perdido, a família.
- A notícia de que ia
ser pai apanhou-me de surpresa, até porque imaginava-me a ser pai dos teus
filhos. Depois senti que não podia abandonar a Margarida e tu abriste-me essa
porta. Mas o meu coração ficou aqui e eu vim para o recuperar.
- Abraças-me António?
- Anda cá meu amor –
abraçou-a durante muito tempo, quando sentiu que Filipa estava mais calma
afastou-a suavemente e beijou cada pedacinho do seu rosto. Filipa já foste ao
médico?
- Sim.
- E o que disse
acerca do teu peso? Não deverias estar a ganhar peso?
- Disse que para já
não estava a prejudicar o bebé, mas para ter cuidado.
- Quando é a próxima
consulta?
- Na próxima semana.
- Posso ir contigo?
- Queres ir?
- Muito. Quero estar
sempre presente.
- E a Margarida?
- Ela voltou para o
Porto e para o antigo namorado. Não te preocupes com ela.
- E tu como estás?
- Eu? Eu estou bem,
estou aqui contigo e não tenho intenção de ir embora.
- Tens a certeza?
- Sim, certeza
absoluta – viu que os olhos de Filipa adquiriam um novo brilho.
- E agora?
- Agora… Vais tomar
banho, vestir-te e depois vamos tomar o pequeno-almoço. Combinado?
- Sim – sorriu
timidamente.
Enquanto Filipa tomava banho, António preparava papas de
aveia com pêra, ainda se lembrava do quanto Filipa adorava comer papas de
aveia. Não iria colocar canela, sabia que as mulheres grávidas não deviam
ingerir canela. Foi generoso com a quantidade de mel, estavam quase prontas, só
precisavam de descansar uns minutos, entretanto iria ver como estava Filipa.
Quando entrou no quarto sentiu o aroma do perfume dela, ela estava a vestir-se
e sorriu-lhe.
Sem comentários:
Enviar um comentário