Naquela tarde o sol estava tímido e Alberto decidiu não ir
para o alpendre. Depois de um dia como aquele só lhe apetecia o silêncio do fim
de tarde e beber um gin com água tónica. Era sexta-feira e tinha que ir
representar o ISCAC no jantar de encerramento dos 125 Anos da ESAC. Não era o
que tinha planeado para aquela noite, tinha que cancelar o jantar com a
Catarina.
Alberto iria celebrar o seu 50º aniversário na semana
seguinte, estava divorciado há 10 anos e desde então sempre teve várias
relações fugazes. Era um homem inteligente, charmoso, simpático, e desde que se
divorciou decidiu nunca mais ter uma relação de longa duração, apenas
fins-de-semana, sem compromissos, sem responsabilidades. Às vezes cansava-se da
futilidade, frieza e interesse de algumas delas. Catarina era uma delas, mas
tinha um corpo deslumbrante e só de pensar nisso ficava excitado.
Tal como tinha previsto, o jantar estava a ser aborrecido,
conhecia a maior parte daqueles rostos, antevia as conversas, os sorrisos, os
cumprimentos. Mais meia hora e poderia ir embora. Enquanto bebia café acabou
por ouvir a conversa das duas mulheres que se encontravam ali, uma deveria ter
cerca de 45 anos e a outra 35 anos, a mais velha era muito bonita, tinha olhos
verdes, um cabelo longo castanho claro e era o tipo de mulher que Alberto
costuma seleccionar para sair, aliás tinha a certeza de que já se tinha cruzado
com ela, deveria ser professora ali na ESAC. A mais nova chamava-se Renata, era
assim que a outra mulher a tinha chamado, estava quase à sua altura, sem aqueles
saltos deveria ter cerca de 1,70 mt de altura, olhos castanhos, delineados a preto,
cabelo de cor preto, com uns lindos caracóis e acima dos ombros, vestia calças pretas
e blusa branca com um decote tentador. Costumava escolher mulheres que tivessem
o cabelo longo, aliás muito longo e de baixa estatura, Renata era alta e tinha um
corpo reboliço.
Aquela mulher de olhar brilhante estava a dizer que estava
cansada de ser assediada por homens casados, que o ideal seria arranjar um
homem que à sua semelhança não fosse comprometido e quisesse ter um encontro sem compromissos, sem
exigências, alguém que não falasse da sua vida pessoal, dos seus problemas, que
não se exibisse, apenas uma noite de sexo e no fim cada um iria para sua
casa, sem despedidas, sem beijos, sem promessas, apenas um “até depois”. O ideal
seria a noite de lua cheia, para ela aquela era a noite dos amantes.
Parecia-lhe muito tentadora aquela mulher, que como ele
apenas procurava um pouco de sexo sem compromissos, sem
conversas do tipo; o que fazes, quanto ganhas, que idade tens, onde passas
férias… estava tão cansado de mulheres que queriam sempre alguma coisa dele.
Renata parecia muito nova para querer um homem apenas uma noite por mês e
sentia curiosidade, será que algum homem a tinha magoado assim tanto ao ponto
de não querer mais nenhuma relação.
Decidiu escrever o seu número de telemóvel e o seu e-mail
num papel, dobrou e quando passou junto a Renata, pediu desculpa, entregou-lhe
o papel na mão e disse quase junto do seu ouvido:
- Pretendo também
apenas uma noite por mês de sexo sem compromissos e sem promessas, tens aí os
meus contactos.
Renata ficou sem palavras, não se tinha apercebido de que
aquele homem alto e distinto que estava a beber café tinha ouvido a sua
conversa. Ficou muito corada e não conseguiu pronunciar nenhuma palavra,
guardou o papel no bolso das suas calças e tentou retomar a conversa com a sua
prima Carolina.
Renata foi àquele jantar porque a sua prima Carolina que era
professora na ESAC tinha insistido muito, desde que tinha ficado viúva, que não
tinha vontade de sair à noite, preferia o sossego do seu apartamento com vista
para o Parque verde, ali junto ao Rio Mondego. Tinha estado a comentar com
Carolina que estava cansada dos homens casados que a assediavam só porque era
viúva, julgavam que estava carente e disponível para qualquer homem. Era a
relações públicas na Quinta das Lágrimas, dedicava-se muito ao seu trabalho e
quando não estava a trabalhar aproveitava para visitar os seus pais que tinham
uma quinta em Pombal.
Já em casa, Renata desdobrou o papel que aquele homem lhe
tinha entregue, ainda sentia o perfume da pele dele junto ao seu ouvido. Era um
homem alto, cabelo grisalho, voz firme, olhos de cor azul do mar, e um sorriso
discreto. O papel tinha um número de telemóvel e um e-mail “a_reis”, sorriu e
guardou o papel na sua agenda, um dia destes ainda teria coragem para o
contactar.
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