sexta-feira, 26 de abril de 2013

O jantar de encerramento das comemorações


Naquela tarde o sol estava tímido e Alberto decidiu não ir para o alpendre. Depois de um dia como aquele só lhe apetecia o silêncio do fim de tarde e beber um gin com água tónica. Era sexta-feira e tinha que ir representar o ISCAC no jantar de encerramento dos 125 Anos da ESAC. Não era o que tinha planeado para aquela noite, tinha que cancelar o jantar com a Catarina.
 
Alberto iria celebrar o seu 50º aniversário na semana seguinte, estava divorciado há 10 anos e desde então sempre teve várias relações fugazes. Era um homem inteligente, charmoso, simpático, e desde que se divorciou decidiu nunca mais ter uma relação de longa duração, apenas fins-de-semana, sem compromissos, sem responsabilidades. Às vezes cansava-se da futilidade, frieza e interesse de algumas delas. Catarina era uma delas, mas tinha um corpo deslumbrante e só de pensar nisso ficava excitado.

Tal como tinha previsto, o jantar estava a ser aborrecido, conhecia a maior parte daqueles rostos, antevia as conversas, os sorrisos, os cumprimentos. Mais meia hora e poderia ir embora. Enquanto bebia café acabou por ouvir a conversa das duas mulheres que se encontravam ali, uma deveria ter cerca de 45 anos e a outra 35 anos, a mais velha era muito bonita, tinha olhos verdes, um cabelo longo castanho claro e era o tipo de mulher que Alberto costuma seleccionar para sair, aliás tinha a certeza de que já se tinha cruzado com ela, deveria ser professora ali na ESAC. A mais nova chamava-se Renata, era assim que a outra mulher a tinha chamado, estava quase à sua altura, sem aqueles saltos deveria ter cerca de 1,70 mt de altura, olhos castanhos, delineados a preto, cabelo de cor preto, com uns lindos caracóis e acima dos ombros, vestia calças pretas e blusa branca com um decote tentador. Costumava escolher mulheres que tivessem o cabelo longo, aliás muito longo e de baixa estatura, Renata era alta e tinha um corpo reboliço.

Aquela mulher de olhar brilhante estava a dizer que estava cansada de ser assediada por homens casados, que o ideal seria arranjar um homem que à sua semelhança não fosse comprometido e quisesse ter um encontro sem compromissos, sem exigências, alguém que não falasse da sua vida pessoal, dos seus problemas, que não se exibisse, apenas uma noite de sexo e no fim cada um iria para sua casa, sem despedidas, sem beijos, sem promessas, apenas um “até depois”. O ideal seria a noite de lua cheia, para ela aquela era a noite dos amantes.

Parecia-lhe muito tentadora aquela mulher, que como ele apenas procurava um pouco de sexo sem compromissos, sem conversas do tipo; o que fazes,  quanto ganhas, que idade tens, onde passas férias… estava tão cansado de mulheres que queriam sempre alguma coisa dele. Renata parecia muito nova para querer um homem apenas uma noite por mês e sentia curiosidade, será que algum homem a tinha magoado assim tanto ao ponto de não querer mais nenhuma relação.

Decidiu escrever o seu número de telemóvel e o seu e-mail num papel, dobrou e quando passou junto a Renata, pediu desculpa, entregou-lhe o papel na mão e disse quase junto do seu ouvido:

 - Pretendo também apenas uma noite por mês de sexo sem compromissos e sem promessas, tens aí os meus contactos.

Renata ficou sem palavras, não se tinha apercebido de que aquele homem alto e distinto que estava a beber café tinha ouvido a sua conversa. Ficou muito corada e não conseguiu pronunciar nenhuma palavra, guardou o papel no bolso das suas calças e tentou retomar a conversa com a sua prima Carolina.

Renata foi àquele jantar porque a sua prima Carolina que era professora na ESAC tinha insistido muito, desde que tinha ficado viúva, que não tinha vontade de sair à noite, preferia o sossego do seu apartamento com vista para o Parque verde, ali junto ao Rio Mondego. Tinha estado a comentar com Carolina que estava cansada dos homens casados que a assediavam só porque era viúva, julgavam que estava carente e disponível para qualquer homem. Era a relações públicas na Quinta das Lágrimas, dedicava-se muito ao seu trabalho e quando não estava a trabalhar aproveitava para visitar os seus pais que tinham uma quinta em Pombal.

Já em casa, Renata desdobrou o papel que aquele homem lhe tinha entregue, ainda sentia o perfume da pele dele junto ao seu ouvido. Era um homem alto, cabelo grisalho, voz firme, olhos de cor azul do mar, e um sorriso discreto. O papel tinha um número de telemóvel e um e-mail “a_reis”, sorriu e guardou o papel na sua agenda, um dia destes ainda teria coragem para o contactar.

 

 

terça-feira, 23 de abril de 2013

Dia de Páscoa


No dia de Páscoa Filipa acordou sobressaltada, a campainha não parava de tocar, quem estaria a tocar à campainha, pensou enquanto se levantava. Não sabia que horas eram, tinha demorado a adormecer.
 
Quando viu que era António sentiu um aperto dentro dela, um misto de felicidade e de preocupação.

 - O que se passa contigo Filipa, não me querias deixar entrar?! – sorriu, mas ao ver o rosto de Filipa, percebeu que ela não estava nada bem e abraçou-a imediatamente. Estava muito pálida, os olhos estavam muito inchados, de certeza que tinha estado a chorar, tinha olheiras já profundas. Filipa estás doente?

Filipa estava a chorar. Não sabia o que fazer, afastou-se um pouco e puxou-a para dentro de casa. Obrigou-a a olhar para ele, levou os seus dedos ao rosto dela para lhe limpar as lágrimas. Ela fechou os olhos e ele sentiu uma dor imensa dentro dele, sabia que ela estava assim por causa dele.

 - Desculpa – conseguiu dizer Filipa.

 - Não peças.

 - António preciso de te dizer uma coisa muito importante.

 - Diz – o que seria que ela iria dizer, que não o queria ver mais. Iria entender, mas não o conseguiria fazer, mais do que nunca sabia que o seu lugar era ali junto dela.

 - Vamos para a sala.

António seguiu Filipa, deixou-a sentar-se no sofá e depois sentou-se ao seu lado.

 - António… naquele dia em que soubeste que a Margarida estava grávida eu tinha uma coisa muito importante para te contar, mas depois não tive coragem e deixei-te ir embora.

 - O que tinhas para me dizer Filipa? – sentia-se muito angustiado.

 - Eu estou grávida.

António ficou em silêncio, não sabia o que dizer, o que pensar. Sentia uma felicidade muito grande. Temia que ela lhe fosse dizer que estava gravemente doente. Mas ela estava grávida, existia a possibilidade de um futuro deles, de uma família.

 - Filipa tu estás muito mais magra, está tudo bem com o bebé e contigo? – conseguiu finalmente dizer e puxou-a para ele, tocou-lhe na barriga, depois agarrou-lhe o rosto e beijou-a. As saudades que tinha dela, dos seus lábios, dos seus beijos. Porque não me disseste antes Filipa?

 - Porque não queria estragar a tua felicidade.

 - A minha felicidade é aqui junto de ti.

 - António naquele dia, depois do que a Margarida te disse, vi no teu olhar esperança, esperança de recuperar o amor perdido, a família.

 - A notícia de que ia ser pai apanhou-me de surpresa, até porque imaginava-me a ser pai dos teus filhos. Depois senti que não podia abandonar a Margarida e tu abriste-me essa porta. Mas o meu coração ficou aqui e eu vim para o recuperar.

 - Abraças-me António?

 - Anda cá meu amor – abraçou-a durante muito tempo, quando sentiu que Filipa estava mais calma afastou-a suavemente e beijou cada pedacinho do seu rosto. Filipa já foste ao médico?

 - Sim.

 - E o que disse acerca do teu peso? Não deverias estar a ganhar peso?

 - Disse que para já não estava a prejudicar o bebé, mas para ter cuidado.

 - Quando é a próxima consulta?

 - Na próxima semana.

 - Posso ir contigo?

 - Queres ir?

 - Muito. Quero estar sempre presente.

 - E a Margarida?

 - Ela voltou para o Porto e para o antigo namorado. Não te preocupes com ela.

 - E tu como estás?

 - Eu? Eu estou bem, estou aqui contigo e não tenho intenção de ir embora.

 - Tens a certeza?

 - Sim, certeza absoluta – viu que os olhos de Filipa adquiriam um novo brilho.

 - E agora?

 - Agora… Vais tomar banho, vestir-te e depois vamos tomar o pequeno-almoço. Combinado?

 - Sim – sorriu timidamente.
 
Enquanto Filipa tomava banho, António preparava papas de aveia com pêra, ainda se lembrava do quanto Filipa adorava comer papas de aveia. Não iria colocar canela, sabia que as mulheres grávidas não deviam ingerir canela. Foi generoso com a quantidade de mel, estavam quase prontas, só precisavam de descansar uns minutos, entretanto iria ver como estava Filipa. Quando entrou no quarto sentiu o aroma do perfume dela, ela estava a vestir-se e sorriu-lhe.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Serra da Estrela

Era quinta-feira, no fim-de-semana iria celebrar-se a Páscoa e a família de Filipa tinha combinado um almoço no Museu do Pão em Seia, para sexta-feira. Não tinha muita vontade de ir, andava muito enjoada, alguém poderia aperceber-se, principalmente as suas astutas tias. Mas como já não estava com elas há quase um ano, iria fazer esse esforço.

Filipa aproveitou para fazer a viagem até Seia por uma zona onde já tinha passado férias e que adorava. Fez o percurso por Avô, Aldeia das Dez, Vide, S. Gião, S. Romão e depois só parou já no Museu do Pão. A viagem decorreu quase normal, não fossem os enjoos provocados pelas curvas. Foi tão bom passar por todos aqueles locais, adorava particularmente Avô, a sua piscina natural e Vide, a ponte de pedra.

Quando chegou ao Museu do Pão, quase toda a família já tinha chegado e estavam sentados em duas mesas. As tias chamaram-na logo para junto delas, olharam-na mas não comentaram nada de especial. O almoço decorreu com algumas gargalhadas, Filipa perdeu-se nas entradas, os ovos, os enchidos, os queijos, deliciou-se. Quando deram pelas horas já era tarde, mais um pouco e não conseguiriam ir até à Torre comprar o queijo e o presunto.

A caminho da Torre e ao passar o Sabugueiro, tinha ficado combinado parar no Sabugueiro para a tia Maria Antónia cumprimentar uns amigos de longa data que ali tinham um estabelecimento. Filipa iria aproveitar para ir a uma casa de banho, aquele estado de graça obrigava-a a ir à casa de banho com mais regularidade. De repente Filipa parou, era o carro de António que estava ali parado, o seu Toyota Prius Hybrid, de cor preta, e aquela era a matrícula dele. O que faria ali António, não se conseguia mexer, tinha bloqueado e o seu coração disparou.

Filipa desconhecia que António tinha ali uma casa de família. E António desconhecia que os seus tios eram amigos de longa data da tia de Filipa. António estava com o seu tio a provar um novo vinho que tinha acabado de chegar, quando sentiu um perfume que lhe era muito familiar, olhou para ver quem usava um perfume igual ao de Filipa, mas era a Filipa em pessoa. O que estaria ela ali a fazer. Decidiu ir ao seu encontro, ela tinha entrado na casa de banho, iria esperar que ela saísse.
 
 - António – conseguiu dizer.
 - Olá Filipa!
 - Vi um carro parecido ao teu lá fora, mas não imaginava que era teu – mentiu Filipa.
 - Sim é o meu carro.
 - Tudo bem contigo António? Como está a Margarida e o bebé?
 - Tudo bem comigo, sim. Obrigado. A Margarida sofreu um aborto espontâneo logo a seguir àquele fim-de-semana e entrou em depressão.
 - Lamento António – Filipa empalideceu.
 - Obrigado. E tu Filipa como estás? – notou que ela tinha perdido peso.
 - Sim, claro que está tudo bem – conseguiu sorrir.
 - O que fazes aqui?
 - Vim a um almoço com a minha família e ali a minha tia Maria Antónia é amiga de longa data dos proprietários deste estabelecimento.
 - Esses senhores são meus tios Filipa.
 - Não sabia que tinhas família aqui – Filipa estava mesmo surpreendida.
 - Sim, tenho. Ali a casa onde está o meu carro é minha.
 - És um privilegiado António, esta zona é muito bonita. Adoro aquele riacho que corre ali fora – e apontou.

Entretanto os familiares de Filipa começaram a sair e ela aproveitou para se despedir de António, deu-lhe dois beijos no rosto e o seu corpo estremeceu.

 - Até uma próxima António – virou-se e começou a andar muito rapidamente.
 - Filipa – António puxou-a pelo braço.
 - Sim.
 - Filipa, tenho saudades tuas.
 - António tenho mesmo que ir.
 - Podemos marcar um jantar?
 - Não em parece conveniente, a Margarida deve precisar muito do teu apoio neste momento.
 - Filipa eu depois telefono-te.

Filipa assentiu e desapareceu.

Depois

Inesperadamente Filipa reagiu de forma muito serena, manteve um longo silêncio e depois deu os parabéns a António.

 - António parabéns! Sei que vais ser um pai babado.
 - Obrigado Filipa.
 - Devias ir para o Porto, a Margarida deve estar ansiosa por sentir que a apoias incondicionalmente.
 - Filipa…
 - Vai António. Eu estou bem. Afinal somos amigos ou não?! A nossa amizade tem uma estrutura muito sólida.
 - Desculpa Filipa.
 - Não peças, nós não fizemos nenhum contrato. Foi muito bom enquanto durou – Filipa conseguiu sorrir.
 - Obrigado. Vou embora então.

António sentia o seu coração a bater descompassadamente. Como é que Filipa estava tão serena. Será que a iria ver em breve. Tanta pergunta por responder, mas não conseguia perguntar mais nada. E Margarida, como estaria.

Depois de António ir embora, os olhos de Filipa não conseguiram reter mais o mar de lágrimas que estavam prestes a desabar. Chorou convulsivamente enquanto segurava o seu ventre, existia uma pequena vida ali dentro e ela não teve coragem de a partilhar com António. Ele ainda gostava muito de Margarida, percebeu isso pela emoção com que ele lhe contou que ia ser pai.
 
Filipa estava muito triste, sentia dificuldade em respirar com normalidade, os seus olhos ardiam de tanto chorar, mas tinha que ultrapassar aquilo. Ia ser mãe, aquele bebé dependia dela, por ele devia sentir-se feliz e agradecia em silêncio por António lhe ter dado aquele presente. Ele iria fazer sempre parte da vida dela.

Já tinha passado um mês e Filipa nunca mais falou com António. Ele enviou-lhe um e-mail a pedir desculpa, a mencionar que ela era uma mulher excepcional, mas Filipa nunca respondeu ao e-mail. Sentia-se mais segura assim, precisava de se afastar para acalmar a dor que a consumia. Tinha-se apaixonado por António, pensava nele todos os dias, tinha saudades da voz dele, dos beijos, dos abraços, das palavras carinhosas que lhe deixava ao longo do dia. Sentia-se como que tendo caído duma grande bola de sabão, como se tivesse andado a flutuar e de repente se tivesse estatelado no chão. Não andava a comer bem, sabia disso e até a médica a tinha alertado para a perda de peso, tinha que se alimentar bem, por ela e pelo bebé. Já tinha uma gestação de quase 8 semanas.

Recentemente tinha decidido prestar serviço de voluntariado na Associação de Defesa de Animais em Alcobaça. Assim depois de sair da clínica de veterinária na Nazaré, ia até Alcobaça, mantinha-se sempre ocupada e só quando ia dormir chorava. Estava a adorar a experiência, tinham como importante missão ensinar às pessoas como tratar de um animal ferido ou doente, bem como os passos que se devem dar caso se encontre um abandonado. Tratavam sobretudo de cães e gatos feridos ou abandonados.

António estava a chegar ao aeroporto de Lisboa, vinha de Angola, tinha lá estado uma semana a dar formação na área de ambiente, para serem assegurados os planos de gestão ambiental, sendo que Angola ficará assim capacitada para os desafios que existem, não só nacionais como também os desafios com a sustentabilidade planetária. Sentia muitas saudades de Filipa, mas não tinha coragem de a contactar. Ela nunca lhe respondeu ao e-mail e não sabia como reagiria a um contacto mais directo dele.

Margarida tinha-se mudado para a sua casa em Lisboa, tinha sofrido um aborto espontâneo há cerca de três semanas e entrou em depressão. António tentava ajudar, saía com ela, levava-a ao cinema, ao Centro Comercial, onde ela dantes adorava passar horas, tinha disponibilizado dinheiro numa conta só para ela. Nada a animava, por isso estava a planear levá-la no fim-de-semana à Serra da Estrela à casa de família que lá mantinha.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O inesperado

As últimas semanas tinham sido passadas entre Lisboa e Nazaré. Estava quase a chegar a casa de Filipa, à semelhança de outros dias, hoje levava um ramo de 33 rosas brancas, sabia o quanto ela gostava de números com capícuas. Ansiava por a abraçar, por a beijar, por a amar, adormecer abraçado a ela.
  
Quando chegou, Filipa esperava-o com um sorriso luminoso, abraçou-o e beijou-o. Estava descalça, com um dos seus muitos leggins pretos, aqueles tinham um pequeno laço em cada perna, tinha um top cai-cai branco e o cabelo estava solto. O seu perfume era uma das coisas que a caracterizavam, assim como os brincos, umas pérolas brancas pendentes. Tão linda. Tão cândida. Tão perfeita para amar e como desejava amá-la.

 - Tinha saudades tuas - disse António.
- Eu também tinha muitas... assim muitas muitas - disse Filipa com um terno sorriso.
- Tenho um presente para ti.
- Um presente?! Tu mimas-me com tanto presente.
- Espera um minuto, vou ao carro buscar.
  
Quando António entregou o ramo das 33 rosas brancas a Filipa, os seus olhos ficaram húmidos.
  
- És tão atencioso. Rosas Brancas e tantas.
- Sim. Eu sei que esta é a tua cor. Espalha estas rosas pela casa.
- É para já my love - Filipa beijou-o e saiu à procura de jarras.
  
Filipa estava muito feliz, amava António como nunca tinha amado algum homem, sabia que aquela relação era uma relação sem compromissos, nunca tinham falado sobre esse assunto, mas sabia que António era assim, um empresário de Lisboa, sem planos para o futuro. Ele tinha-lhe dado a melhor dádiva da vida e queria muito partilha-la com ele, talvez ao jantar. Sabia que ele iria estar sempre que possível presente, mas sem obrigações, sem compromissos.
  
O telemóvel de António começou a tocar, era Margarida, a sua ex-esposa. Ficou surpreendido com o telefonema e atendeu.
  
- Sim, boa tarde Margarida! Tudo bem?
- Boa tarde António! Tudo, mais ou menos.
- O que se passa? - disse António preocupado.

 Quando António desligou o telemóvel, estava sem palavras, aquilo não lhe podia estar a acontecer, a Margarida estava grávida e ele ia ser pai. Mal se lembrava daquela noite. Numa das suas idas ao Porto foi jantar com Margarida, à semelhança do que acontecia normalmente. Mas naquela noite a Margarida estava triste, tinha terminado a relação que mantinha com o namorado há 3 anos. Chorou e bebeu um pouco mais que o normal, insistiu para que António entrasse quando a deixou em casa. E depois as coisas aconteceram, ela beijou-o, pediu-lhe para ele a amar como fazia nos tempos de faculdade, as coisas evoluiram e acabaram por fazer amor. No dia seguinte António pediu-lhe desculpa, por se ter deixado levar. Não a queria magoar. Desejava que ela ficasse bem e que em breve se apaixonasse.
  
Agora estava perante uma gravidez que não tinha sido desejada, aliás só se imaginava pai dos filhos de Filipa, sabia o quanto ela desejava ter gêmeas. Como é que ela iria reagir àquela notícia. Aqueles lindos olhos iam ficar inundados de tristeza e ela não o ia deixar protegê-la mais. Tinha de ir falar com ela.

Em casa

Naquela casa respirava um sossego que já andava distante, António sentia uma paz interior imensa. Tinha um quarto branco com uns apontamentos azul, azul do mar à sua espera. Toalhas de banho em algodão egípcio na casa de banho contígua, sabonete da Claus Porto, mais tulipas e velas brancas. Iria tomar um banho rápido e vestir uma roupa mais informal.

Filipa estava vestida com uns leggins pretos e uma túnica branca com um decote ousado, descalça, o cabelo estava preso num tótó, usava pérolas brancas nas orelhas e só tinha pensado em como lhe apetecia soltar o cabelo. Era simplesmente linda, uma das suas características principais eram os seus olhos, muito expressivos e tinham sempre um brilho muito especial, tinha cerca de um metro e setenta de altura, assim descalça era 10 centímetros mais baixa que António, desejava tê-la nos braços, protegê-la e beijá-la.
  
Já depois do jantar , bebiam o café na varanda. De fundo ouviam-se os grilos, o mar, o céu estava estrelado e a noite ligeiramente fria. Filipa foi buscar duas mantinhas de lã e deu uma a António. Depois de beberem o café, quase em silêncio Filipa perguntou a António se estava bem, se estava confortável, se precisava de mais alguma coisa. António disse que estava bem, que estava a desfrutar da serenidade da noite e disse:
  
- Obrigado Filipa! O jantar estava delicioso - até tu estás deliciosa, pensou.
- Ainda bem que gostaste - sorriu.
- Adoro esta tranquilidade, é gratificante depois de um dia de intenso trabalho, poder usufruir assim da natureza.
- Sim. É aqui que recupero as minhas energias.
- É aqui que me escreves?!
- Às vezes, sim. Porquê?
- Estava a imaginar a descrição que no outro dia me fizeste, ouvias o mar, os grilos... - sorriu tímidamente.
- Ah! Lembro-me sim. Foi aqui sentada que te escrevi isso.
- Obrigada por me teres convidado para este fim-de-semana aqui contigo.
- Hum... como contrapartida vais comigo ver o derby no próximo mês e tens que assitir comigo nas bancadas de sócios do Benfica - deu uma gargalhada.
- Estás a falar a sério?!
- Claro que sim. Porquê?
- E estás preparada para a derrota do Benfica?
- Isso não vai acontecer. Sabes porquê?
- Porquê?!
- Porque nunca vi um jogo na luz em que o Benfica tivesse perdido e não será agora - sorriu com os olhos a brilharem.
- Mas posso torcer pelo Sporting?
- Isso é contigo, na certeza de porém seres insultado pelos sócios que estarão sentados ao lado.
- Então vou contigo sim, mas tu compras os bilhetes.
- Já os tenho.
- E depois passas a noite lá em Lisboa? Podes ficar em minha casa, já fica tarde para regressares.
- No dia seguinte vou trabalhar, depois vê-se.
- Vais ficar muito zangada comigo com a vitória dos leões?
- Se por mero infeliz acaso isso acontecer, será melhor não falares muito para mim.
- Vou tentar - sorriu.
  
Estavam sentados um frente para o outro e no meio da conversa Filipa aproximou-se de António como desafio, ficava deslumbrante quando defendia uma causa e mesmo não gostando do Benfica, adorava aquela faceta dela. Tinha contacto com algumas mulheres, em algumas ocasiões jantava com uma ou outra e às vezes acabava por dormir com elas. Com Filipa tinha uma vontade crescente de a proteger, de a mimar, de a defender, de a beijar com toda a calma do mundo, saborear o momento, a ternura que ela emanava. Sabia que com ela não poderia ter um jantar casual, uma noite de vez em quando, ela era uma mulher que iria querer uma relação de longa duração e ele não tinha esse espaço na sua vida. Mas queria-a, cada vez mais.
  
Filipa estava enroscada na manta e perguntou-lhe se estava tudo bem:
  
- Tão pensativo... está tudo bem?
- Sim. Sabes que sou tímido, mas tenho uma vontade enorme de fazer isto - e puxou o rosto de Filipa, ficou colado ao rosto dela, quase a tocar-lhe os lábios, Filipa não disse nada, mas notava-se que ansiava tanto quanto António por aquele momento.
  
Beijaram-se, primeiro com doçura, e depois como uma necessidade, uma necessidade urgente, como se para respirarem precisassem dos beijos. Quando separaram os lábios, António não a largou, ficou com a testa colada na da Filipa e disse:
  
- Era nisto que pensava - e voltou a beijá-la.
- Podias ter dito - tentou brincar Filipa.
- Se eu tivesse dito por palavras, o que me respondias?
- Que se corresses atrás de mim, poderias tentar - e desatou a correr.
- Tu és muito doida - e correu atrás dela.
  
Quando a conseguiu alcançar, agarrou-a pela cintura e ficou a olhar para ela, a tentar memorizar cada pormenor do seu rosto, sabia que iria guardar com muito carinho todas aquelas doces recordações, queria pensar nela e lembrar-se do seu sorriso, dos seus olhos, dos seus lábios, do seu perfume que lembrava o aroma delicado do pó de talco com um toque de baunilha. Desta vez foi ela quem deu o primeiro passo, colou-se aos lábios de António, saboreou lentamente cada pedacinho dos lábios, como que a pedir permissão para entrar, brincou com a língua de António, quando sentiu a exigência do beijo de Filipa, apercebeu-se que ela se agarrava aos seus braços com receio de que ele a fosse largar a qualquer momento. Afastou-se um pouco e sossegou-a, dizendo que era ali que queria estar e que não iria embora.
  
No dia seguinte acordou sozinho, sentiu um vazio, onde estaria Filipa. Estaria zangada ou desiludida com ele. Levantou-se e quando a ia procurar ela vinha já ao seu encontro, parecia uma fada, descalça, o cabelo solto, uma túnica branca quase transparente. Aproximou-se de António, disse um bom dia num tom de voz rouco e beijou-lhe a ponta do nariz.
 
- Vinha-te acordar - e sorriu.
- Hummm... cheira a café - e devolveu um sorriso.
- Sim, vem comigo - puxou-o pela mão.
- Deixaste-me sozinho na cama.
- Desculpa, mas queria preparar-te um pequeno almoço delicioso - puxou uma cadeira da varanda para ele se sentar.
- Nada disso, eu sou um cavalheiro - e puxou a cadeira de Filipa. - Senta-te.
- Ainda me habituas mal - brincou.
- Mereces tudo, minha fada branca.
- Fada branca? - perguntou.
- Sim... a cor com que te defino é o branco, como o silêncio, o sossego, dás-me muita tranquilidade... Excepto quando me beijas - piscou-lhe o olho.
- Que bom! - sorriu corada.

Sexta-feira

Era sexta-feira, Filipa queria ir ao mercado comprar amêijoas frescas do Algarve para preparar para o jantar. António iria passar o fim-de-semana com ela e estava ansiosa pelo fim do dia, pelo momento em que iria ver os seus olhos, ouvir a seu sorriso. Tantos planos para aquele fim-de-semana.

Queria preparar uma mesa bonita, uma mesa muito clean, uma mesa branca com flores brancas, rosas ou tulipas brancas, pratos brancos. Onde contrastaria com a cor da comida, as ameijôas, o vinho nos copos, o pão escuro no cesto branco. A música de fundo seria um som melodioso e harmonioso, talvez The XX, começaria por “Intro”. Faltavam as velas, queria muitas velas, também velas brancas e em tamanhos diferentes.
 
Saber que António não iria ficar indiferente ao ambiente que Filipa tinha criado com tanta dedicação, era muito bom, via-o na sua vida, como algo muito simples, muito branco, muito declarativo, com eles as horas passavam sem se dar por isso, a conversa fluía, adorava quando António ficava corado, quando ele sentia o olhar atento e insistente de Filipa, o seu rosto adquiria um tom mais rosado, ficava lindo.
 
Também já tinha preparado o quarto, ele ficaria no quarto azul e branco, lençóis de algodão brancos, colcha branca, uma mantinha azul e muitas almofadas azuis, desejava que tivesse uma noite de um sono muito tranquilo. António trabalhava imenso, queria que ele tivesse um fim-de-semana de descanso, daqueles que sabem a mini-férias.

No dia seguinte iriam conhecer a linda Nazaré de bicicleta, um passeio demorado junto do mar. Provavelmente compraria peixe acabado de pescar aos pescadores e seria o almoço. À tarde poderiam usufruir do jardim nas espreguiçadeiras e à noite sairiam para conhecer o ambiente nocturno da zona da Praia da Vieira.

Domingo seria um dia livre, para António dormir mais um pouco, sem horários, sem planos. A melhor recompensa de Filipa seria um sorriso espontâneo de António, um sorriso que tacitamente indicasse um “Obrigado por este lindo fim-de-semana”.

Em Fátima

Era o primeiro sábado de primavera daquele ano, estava um sol radiante. A tarde perfeita para estar ali no meio daquelas pessoas, Filipa ajustava a sua máquina fotográfica e ia tirando fotografias aos rostos mais expressivos. Adorava aquela paz que conseguia respirar naquele local. Quando se sentia mais triste, ia ao Santuário de Fátima, sentava-se na escadaria e chorava em silêncio. Observava com muito atenção o que a rodeava, conseguia ver esperança e fé nos olhos das pessoas que como ela ali procuravam a tranquilidade do espírito.
Filipa tentava também encontrar no meio daquelas pessoas um rosto especial, o rosto de António. Tinha esperança de que ele tivesse lido o seu e-mail e que num acto de coragem tivesse rumado até Fátima.

Aquele homem intrigante conseguia tirar Filipa do sério, umas vezes irritava-a e outras vezes era o homem mais doce que alguma vez conhecera. Queria muito saber quem era António e porque tinha aquele efeito nela. Sabia que aquele era o local perfeito para o conhecer, ele também gostava de ali estar, de sentir aquela paz, aquele silêncio.

António sempre tinha morado na capital, era um brilhante gestor, geria a sua própria empresa, uma empresa na área do ambiente, que criou e viu crescer, até criar raízes sólidas no difícil mercado português. Nem sempre tinha sido fácil, à conta disso tinha-se afastado um pouco da família, o tempo era sempre pouco, entre viagens pela Europa, reuniões pelo país, pouco sobrava. Tinha idealizado que aos 40 anos já teria a empresa no ranking nacional, já teria pelo menos três filhos. Profissionalmente atingiu o objectivo, mas em termos de ver crescer a sua família, aconteceu o contrário. Margarida a sua esposa cansou-se dos dias de solidão que passou a viver, raramente via António, coabitavam na mesma moradia, conseguiam jantar juntos ao Domingo. Quando surgiu uma oportunidade de trabalho noutra cidade, não hesitou, precisava de se afastar de António, para ele perceber que ela não estava sempre ali. Mas os meses foram passando e António cada vez se afastou mais, a verdade era muito transparente, eram grandes amigos, mas os sentimentos que os uniram em matrimónio já não eram os mesmos. O divórcio foi o caminho mais correcto. Sempre que António ia ao norte, visitava Margarida, sentia um carinho muito especial por ela, mas já não era a sua paixão dos tempos de faculdade.
Num Sábado de solidão ao verificar os seus e-mails foi parar a um site de encontros virtuais, um site para falar com pessoas que como ele não tinham espaço para uma vida social activa. Nesse dia encontrou o perfil de Filipa, 33 anos, veterinária e que morava junto da Praia da Nazaré. Foi fácil falar com aquela mulher, simpática, discurso fluído e à sua semelhança estava sozinha num sábado à noite, pelo que tinha decidido entrar também naquele site. Tinham alguns interesses em comum e até já há muito tempo que não se sentia assim tão bem disposto. A verdade é que gostava de saber que outra pessoa partilhava os seus ideais, as suas ambições. A maior ambição de Filipa era ser mãe de gémeos, queria gémeos… António nunca tinha pensado nisso, mas sabia que exista a grande possibilidade de um dia quando fosse pai, fosse pai de gémeos. Na sua família há muitas gerações que era assim, o seu pai tinha um irmão gémeo, o seu avô paterno tinha um irmão gémeo, o seu bisavô também tinha um irmão gémeo… até pelo menos quatro gerações atrás eram assim. António já não se lembrava da vontade que tinha de ser pai. Aquela mulher tinha ressuscitado parte dos seus planos do passado.

Naquele Sábado António acordou e apercebeu-se que mal conseguia engolir a sua saliva, o ar condicionado do dia anterior na reunião que teve em Évora deixou-o debilitado e era visível que estava na companhia de uma constipação. O seu blackBerry deu sinal de e-mail novo, Filipa estava a enviar-lhe o seu usual “Bom dia” e a propor uma visita ao Santuário de Fátima, estaria lá a sua espera. Até parecia que tinha escolhido o dia, logo aquele dia, em que se sentia doente, uma sensação estranha, porque nunca adoecia.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

A promessa de um risotto


Já em casa de Laura, Rui Pedro preparava-se para fazer o risotto de cogumelos, tal como tinha prometido várias vezes. Laura tinha-lhe dado um avental, estava a colocar os ingredientes no balcão da cozinha e entretanto foi preparar um gin tónico.

Era fácil a conversa entre os dois, como sempre tinha sido nos e-mails. Partilhavam muitas afinidades, só quando o assunto era futebol, é que se desentendiam, mas não se zangavam.

O aroma do risotto já inundava o ambiente, Laura tinha os olhos brilhantes, estava radiante e Rui Pedro só pensava em beijá-la. Queria sentir os lábios dela, tocar a pele, o cabelo. Laura tinha tirado as alças das jardineiras, viam-se os seus seios generosos por baixo da t-shirt branca. Não podia negar aquela atracção sexual, o aumento da sua libido.

Enquanto Rui Pedro tentava recompor-se daquele turbilhão de vontades, Laura tinha preparado a mesa e já se ouvia música, Bob Dylan. Ela lembrava-se do quanto ele gostava da música de Bob Dylan. Tinha que a beijar, que a abraçar, agradecer-lhe por o deixar fazer parte da sua vida.

Quando Laura se aproximou do fogão para ver como estava o risotto, fechou os olhos e inalou o aroma que saiu do tacho, Rui Pedro aproveitou e beijou-a, ela abriu os olhos e ficou perdida, mas ele abraçou-a e procurou novamente os seus lábios, ela não resistiu. Rui Pedro saboreou cada pedacinho dos lábios de Laura, como se estivesse a pedir permissão para entrar. Explorou a sua boca, a língua. Quando se separaram os lábios de Laura estavam inchados, ainda mais apetitosos.

Laura quebrou o silêncio e disse que o risotto deveria estar pronto, faltava o parmesão. Rui Pedro anuiu e desligou o fogão. Envolveu o queijo e colocou o risotto num prato para levar à mesa. Sentaram-se e não proferiram nenhuma palavra. Rui Pedro levantou-se e pediu a Laura para se levantar.

 - Preciso de te beijar Laura.

Laura sorriu e quando Rui Pedro a envolveu nos seus braços, procurou os lábios dele. Já há muito tempo que Laura não sentia o seu corpo a reagir daquela forma, os seus seios ansiavam por Rui Pedro. Ele puxou a t-shirt e tocou os seios dela, precisava de mais, tirou a t-shirt, o soutien e desceu os lábios, saboreou primeiro um, depois o outro enquanto Laura gemia de prazer.

 - Laura vamos jantar depois, vem comigo.

Laura foi atrás dele. No quarto Rui Pedro beijou-a como se não houvesse amanhã, começou a explorar o pescoço, desceu novamente aos seios. Laura não aguentava tanto prazer. Precisava de sentir a pele de Rui Pedro, começou a puxar o pólo para o despir, quando caiu no chão, pode sentir a pele de Rui Pedro, as suas mãos andavam perdidas nele, nos pêlos do peito, quando chegou aos mamilos, brincou com a sua língua, as suas mãos estavam nas calças e Rui Pedro gemeu, as calças caíram e Rui Pedro tirou as jardineiras de Laura, deitou-a na cama. No silêncio do quarto só se ouviam os beijos, os gemidos de prazer. Sentiam-se esfomeados um pelo outro, o mundo tinha parado, era só deles.

Laura queria Rui Pedro por ela e nela. Sentia que enquanto ele a amava, lhe estava a massajar o coração. Quando atingiram o clímax, Rui Pedro viu nos olhos de Laura lágrimas. Não sabia se a tinha magoado, se eram de felicidade, entrou em pânico. Laura tranquilizou-o. Eram de felicidade. Ficou nos braços dele. Há tanto tempo que imaginava aquele momento. Sabia agora que queria ser amada por ele sempre.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Na Lagoa da Barrinha


Como era Domingo e Laura não tinha planeado nada, decidiu ir com Mila até à praia, sabia que a sua cadela adorava água. Arranjou um cesto com fruta, água e queijo. No caminho compraria pão. Mila percebeu que iriam passear e ficou sentada junto do carro à espera que a dona a mandasse entrar.

Já estava na praia sentada numa manta que tinha sempre no carro, quando Rui Pedro lhe telefonou a perguntar por onde andava. Laura disse que tinha ido até à linda Vila de Mira, levou Mila a brincar na água e que depois aproveitaria para almoçar ali no Parque de Merendas. Ele disse que iria já ter com ela, para não sair de onde estava. Laura foi apanhada de surpresa, não esperava por ele naquele dia, naquele momento. Alguma coisa grave teria acontecido. Iria aguardar e esperar que ele depois lhe contasse. 

Laura sabia que Rui Pedro era alto, que tinha 1,85 de altura, cabelo ligeiramente ondulado e com um corte descontraído, olhos castanhos e um sorriso lindo, fazia covinhas quando sorria. Costumava vestir-se com roupa formal e nunca tinha visto nenhuma foto em que estivesse num ambiente mais informal. Por isso, quando o viu a aproximar-se com calças de ganga já desbotadas e um pólo azul-escuro, não estava preparado para o efeito que ele tinha sobre ela. Estava a caminhar na sua direcção já com um amplo sorriso no rosto.

 - Laura!
 - Rui Pedro!
 - Não me dás sequer dois beijos? – brincou.
 - Desculpa – e aproximou-se dele para o cumprimentar com dois beijos.

Rui Pedro tinha vontade de a abraçar, considerava-a sua irmã, a sua confidente, cúmplice nas longas noites de solidão na Baviera, às vezes passavam horas na internet a partilhar coisas da vida, coisas íntimas até. Viu que ela estava nervosa. Ela sempre dissera que não era tão bonita como as fotos, mas ele achava-a ainda mais bonita, era alta, teria cerca de 1,70 de altura, uns olhos verdes lindos, o seu cabelo era castanho claro, muito longo, ligeiramente ondulado e tinhas algumas madeixas rebeldes a caírem junto ao seu rosto. Os lábios eram rosados e a pele estava ainda bastante bronzeada. Cheirava a mar e baunilha. Sentiu um calor dentro de si, sentia-se bem.

Laura apresentou-lhe Mila que andava atrás de umas gaivotas. Convidou-o a sentar-se na manta, que prontamente logo aceitou.

 - Laura olha para mim. Assusto-te assim tanto? – tentou brincar com a situação para a descontrair.
 - Não, não é isso. É uma sensação estranha. – o coração dela batia desenfreadamente.
 - Então onde vamos almoçar? Estou faminto – e não era só de comida, ainda ontem tinha tido nos seus braços a enóloga e depois da desilusão tinha decido ir ao encontro de Laura. Não estava preparado para aqueles lindos olhos verdes a sorrirem para ele e nem para aqueles lábios sedutores. Não, Laura era a sua amiga do coração, não podia permitir que a sua líbido baralhasse tudo.
 - Trouxe um cesto com alguma comida e estou disposta a partilhar contigo – sorriu.
 - Então vamos lá buscar esse cesto.
 - Tinha pensado em comer ali no Parque de Merendas – e apontou na direcção do Parque.
 - Óptimo. Vamos?

Rui Pedro ficou impressionado com a mesa que Laura preparou para ambos. Tinha várias frutas, um queijo com um aspecto divinal, pão caseiro, água e ainda uns brownies de chocolate com um aspecto delicioso. Não conseguia tirar os olhos dela, estava vestida com umas jardineiras de ganga e uma t-shirt branca, com o seu cabelo com ondulações rebeldes a caírem em cascata pelos seus ombros. Tinha colocado óculos escuros e não podia admirar os seus lindos olhos.

Mais uma vez estava apensar nela de uma forma mais sexual, mas não podia, não com ela. A refeição foi descontraindo Laura e quando terminaram ela já estava completamente relaxada, era tão sensual, tão de bem com a vida. Combinaram ir dar um passeio de Gaivota na Lagoa da Barrinha, a muito custo conseguiram sentar Mila junto deles, mas em vão, estava sempre a saltar para a água o que acabou por antecipar o fim do passeio pela Lagoa.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

No dia seguinte


Laura disse a Rui Pedro que lamentavelmente não poderia ir ao norte, tinha tido um imprevisto e necessitava de passar o fim-de-semana em Coimbra. Depois combinariam um almoço.

Era o dia do seu aniversário e Rui Pedro só pensava no fim do dia com a sua pequena enóloga. Tinha combinado depois da festa lhe ir mostrar a noite da Invicta. Sentia-se ansioso, sentia uma tensão sexual entre os dois e queria saborear os lábios dela, sentir a sua pele, segredar no seu ouvido que era linda e perfeita.

Laura acordou cedo e foi preparar o pequeno-almoço, como era Sábado iria para o terraço, deliciar-se com a sua torrada e café ao som do chilrear dos pássaros. Sentia-se nostálgica, era suposto ir a caminho de Lisboa dar os parabéns pessoalmente a Rui Pedro, mas foi adiado o encontro.

Quando já eram 11h30 decidiu telefonar-lhe. Ele estava sereno, feliz por ter a página do seu quadragésimo aniversário a ser preenchida de uma forma tão inesperada. Disse-lhe que iriam ter um churrasco no jardim que começaria à hora de almoço e se prolongaria pela tarde fora. A noite seria a dois, com Joana Catarina. Queria mostrar-lhe a magia da vista da cidade à noite. Confessou ainda que aguardava o desfecho daquele dia, sentia-se a flutuar perante a perspectiva de a ter nos braços.

Laura decidiu ir visitar o mar, naquela praia isolada junto aos pescadores, que tantas vezes a tinha recebido. Pedacinhos de tristeza inundaram os seus olhos. Não podia negar que estava desiludida, tinha esperado muito por aquele dia. Ao longo daqueles últimos anos tinha aprendido a ver a vida de outras perspectivas, pelos olhos de Rui Pedro.

Na rádio começou Fade to Black dos Metallica:

Life it seems will fade away
Drifting further everyday
Getting lost within myself
Nothing matters no one else
have lost the will to live Simply nothing more to give
There is nothing more for me
Need the end to set me free…

Era assim que se sentia, triste, sem vida, sufocada. O telemóvel despertou-a para a vida, era a sua irmã Patrícia, queria saber se podia contar com ela para o jantar e se depois iam ao cinema. O programa perfeito para aquele dia, o filme teria que ser daqueles muito românticos, que fazem chorar pelo fim feliz.

Enquanto Laura estava no cinema com a sua irmã, Rui Pedro já ia a caminho da quinta na companhia de Joana Catarina. Queriam terminar o que tinha começado no carro, ele sentia-se muito excitado e queria explorar o corpo da sua enóloga.

Com a aurora do novo dia, Rui Pedro sentia-se extasiado, a noite tinha sido perfeita. Não estava era preparado para o que Joana Catarina lhe disse mais tarde, já depois do pequeno-almoço. Estava tão feliz com os planos para aquela sua semana de férias com a sua enóloga que nem se apercebeu do distanciamento que ela tinha criado.

Joana Catarina disse-lhe que tinha tido uma noite inesquecível, mas que estava a terminar o seu trabalho ali naquela quinta e que ia regressar à sua cidade, Coimbra. Que não tinha intenção de alimentar uma relação. Rui Pedro sentiu o chão a fugir dos seus pés, logo ele que estava habituado a pequenas aventuras, de uma noite, de algumas semanas. Nada lhe fazia prever aquele desfecho, precisava de sair dali o mais rapidamente possível. Só lhe ocorriam as palavras de conforto de Laura, os seus conselhos sábios. Precisava de ir ao seu encontro.